sexta-feira, 21 de agosto de 2009

North Sikkim - inesquecivel!


Quando soube que eu teria alguns dias de folga no trabalho, nao pensei duas vezes: vou viajar! Restava apenas decidir o destino pois ha muitos lugares que eu gostaria de conhecer na India.
Como eu estava indo sozinha resolvi optar por algum lugar mais seguro e tranquilo.Foi quando me lembrei de uma reportagem que eu li durante um voo para Mumbai, nessas revistas de companhias aereas, uma reportagem sobre o norte Budista da India, um lugar onde as pessoas ainda vivem em vilarejos no meio das montanhas, perto dos Himalaias, um lugar de paisagens lindas, no estado de Sikkim.Pronto, estava decidido! Vou me isolar nas montanhas.


Como nao e um lugar muito conhecido pelos turistas tive que pesquisar tudo por conta propria (ja comentei que simplesmente adoro o google:J). Lendo relatos de viajantes na internet, a primeira coisa que tive certeza e que essa nao era a melhor epoca para ir para o norte, devido as moncoes.A melhor epoca e durante a primavera ou durante o inverno, mas como eu sou muito teimosa e quando coloco alguma coisa na cabeça e quase impossivel eu mudar de ideia, nao liguei caso eu tomasse uma chuvinha, eu estava indo sozinha, com o intuito de me isolar, conhecer as pessoas e o modo de vida das montanhas, chuva nao seria um problema.


E se eu adoro o google, eu simplesmente amo o lonely planet! La encontrei no capitulo intitulado Roads Less Travelled, algumas informacoes uteis sobre Sikkim. Apenas para situar voces, Sikkim e um estado que faz parte da Bengala Ocindental e faz fronteira com o Buthao, Nepal e China. Ate 1975 foi um reino com status de protetorado indiano. Era governado pela dinastia Chogyal, budista de origem Tibetana que teve inicio no sec. 17. Mas a politica do Raj britanico de importar mao de obra barata do vizinho Nepal para as plantacoes de arroz e cha modificou completamente a demografia do estado e logo os hindus nepaleses constituiam 75% da populacao. Em 1975 o povo de Sikkim votou em massa para se unir a Republica da India terminando assim o dominio da dinastia.

Bom, depois de um final de semana intenso de pesquisas e rotas me decidi por nao planejar nada! Nao gosto de ter tudo previamente decidido, lugares selecionados, ou quantos dias ficar em cada lugar, nao gosto de me limitar...eu sabia apenas que queria ir para o norte de Sikkim, para as montanhas, ficar em paz, em silencio comigo mesma. Preferi deixar o destino me levar, e assim dar uma chance para a sorte aparecer. Comprei a passagem de trem e a passagem de aviao e sabia apenas que tinha que chegar em Gangtok, capital de Sikkim para passar a primeira noite por la, pois e dessa cidade que saem as vans e jeeps para os vilarejos mais afastados. Segui a dica do lonely planet e reservei um albergue que ficava perto da rua principal da cidade (uma coisa que aprendi viajando por aqui e que se vc nao conhece o lugar procure se hospedar sempre perto da rua principal, que normalmente tem todas as utilidades por perto como caixa eletronico, restaurantes, farmacias...enfim, isso facilita muito.)

Depois de 6 horas de trem, um voo com escala que durou mais 5 horas, cheguei no aeroporto mais proximo de Sikkim, que fica em Bagdora. De la teria que pegar um taxi para Gangtok, o que significaria mais 6 horas de estrada, subindo as montanhas. (isso tudo eu ja sabia, minha pesquisa do final de semana nao foi tao a toa). Na saida do aeroporto parei em um –dentre varios- guiches de taxis e solicitei um motorista para me levar ate Gangtok – e foi ai que a sorte resolveu dar as caras pela primeira vez - entre 30 motoristas que ali estavam esperando os clientes, um anjo da guarda foi o que me levou ate Gangtok. Manesh e seu nome. Foi o caminho inteiro (6 horas) querendo conversar comigo, me contou tudo sobre a familia dele, esposa, filhas, irmas, mae, pai, e ainda me contou muito sobre a historia da regiao, pena que seu ingles era muito fraco, e para ele completar um frase demorava em torno de 3 minutos, mas a bondade dessa pessoa e dificil de descrever. Toda hora estava preocupado comigo, se eu estava bem, se queria parar para ir no banheiro, se estava com fome...tambem ficou muito curioso pelo fato de eu estar viajando sozinha, me perguntou se eu nao tinha amigos aqui na India, e disse que qualquer coisa que eu precisasse poderia ligar pra ele, pois ha mais de 11 anos ele trabalha como motorista nessa regiao e conhece muita gente, inclusive donos de hoteis, restaurantes, etc...

A estrada para Sikkim e algo que voce tem que estar fisicamente e psicologicamente preparado. E o tempo todo subindo, subindo, subindo...so em curvas, estrada 100% sinuosa e beirando a ribanceira...a paisagem e magnifica! Montanhas enormes, um rio maravilhso, cachoeiras de perder a conta (muitas delas literalmente cortavam a estrada)... o problema e a segurança. Estrada de mao dupla na India nao significa boa coisa. Os caminhoes que vinham na direçao contraria te pegavam de surpresa. O caminho inteiro voce tem que ir buzinando para avisar que vc existe. Perdi as contas de quantas vezes tivemos que brecar em cima da hora, no final da curva. Mas, segundo Manesh, e normal, eu nao precisava me preoucupar, ele dirige a mais de 11 anos e NUNCA sofreu nenhum acidente. (ok, essa informacao, ao meu ver, nao e muito tranquilizadora, pois se em 11 anos nada aconteceu, quer dizer que as chances da primeira vez acontecer de agora em diante ficam cada vez maiores,pois sempre ha de existir uma primeira vez...) Enfim...acabei me acostumando com as buzinas e freadas e resolvi aproveitar o visual. Na entrada de Sikkim, e preciso parar e solicitar um autorizaçao que me daria o direito de ficar 15 dias na regiao. Devido ao estado fazer fronteira com 3 paises diferentes, o controle de entrada e saida e muito rigido. Mas eu ja estava preparada e tinha a copia do passaporte e as fotos 3x4. Em 15 minutos consegui a permissao e seguimos rumo a Gangtok.

Gangtok e uma cidade compacta, construida na montanha, por la nao existem ruas planas, e tudo sobe e desce. Uma cidade interessante, que reflete essa miscelania etnica de Sikkim. E uma mistura de nepaleses, buthaneses, tibetanos e indianos por todo o lado, mas a lingua dominante e Nepali. Cheguei no albergue ja no comecinho da noite, me despedi de Manesh e ele me disse que assim que eu terminar de conhecer o norte, se sobrar alguns dias, ele gostaria de me levar para a cidade onde ele cresceu, e conhecer a familia dele.

No albergue,eu era a unica hospede! Nem precisava ter feito a reserva..,definitivamente o turismo por aqui ainda esta engatinhando. Conversando com o dono do albergue fiquei sabendo que logo abaixo eles tinham uma agencia de turismo que agendava excursoes para o norte. Eu tinha lido a respeito de um vilarejo chamado Lachen, e queria muito passar uns dias la. Agendei entao para a manha seguinte um jeep que me levaria a 3 vilarejos ao norte, o unico problema era que para ir a esses lugares precisava de outra permissao de entrada, e que so era emitida para no minimo 2 pessoas, ou seja, sozinha nao conseguiria a permissao. Mas aqui e a India, onde, igual ao Brasil, tudo se da um jeitinho. Na manha seguinte conheci meu guia e ele me deu a otima noticia de que ja estava com a minha permissao e que poderiamos partir rumo ao norte. Ele me avisou tambem que um outro guia iria nos acompanhar, seria a primeira viagem dele como guia, estava sendo treinado pois o turismo esta comecando a crescer e eles precisam de pessoas capacitadas. La fui eu entao com um jeep muito velho e 2 guias nepaleses rumo as civilizacoes quase perdidas. Nossa primeira parada seria Lachung que e um vilarejo que fica a 10.000 pes de altura. De Gangtok demoramos 5 horas. A estrada era o mesmo esquema,subidas e mais subidas, freadas inesperadas, buzinas, travessia de cachoeiras, pontes, mas tudo isso com um visual incrivel. O tempo estava nublado, e como o lugar e muito alto, o caminho inteiro pude apreciar a paisagem com aquela nebulosidade que trazia um ar misterioso ao lugar. Por sorte nao estava chovendo! Durante essas 5 horas, paramos em check points umas 4 vezes, para apresentar a permissao de turista. No caminho inteiro a presença de postos do exercito se faz presente, segundo o meu guia, a tensao maior e com a China, que vive ameaçando invadir Sikkim, pois segundo eles, Sikkim e parte da China e nao da India. Fora isso a viagem foi muito engracada! O meu guia querendo ensinar o outro que ficava atras, todo quieto e timido anotando tudo em um caderninho, pareciam os 2 patetas. Sem contar quando o “projeto de guia” pegava no sono no banco de tras e meu guia ficava puto! Dava gritos para ele acordar ou brecava o carro para ele cair do banco. Comedia esses dois!

Em Lachung fiquei hospedada na casa do dono do albergue de Gangtok. O Vilarejo e um “nadinha no meio das montanhas”. A populacao e rural e vive de agricultura. Da janela do meu quarto a vista era incrivel, montanhas, rios, cachoeiras... caminhei pela cidade onde nada acontece e o tempo parece nao andar. Um silencio, uma paz, aquele cheirinho de lenha saindo das chamines das casas, pessoas simpaticas e curiosas, te olhando envergonhadamente. Nesse dia fiz uma trilha ate uma das mais de 30 cachoeiras, e subi no alto da montanha de onde pude ver todo o vilarejo. Realmente “um nadinha” no meio de um vale. Depois do almoço fomos para a escola do vilarejo pois era 15 de Agosto, dia da independencia Indiana, e e no patio da escola que as atividades se realizariam. Foi muito engracado! Praticamente toda a cidade se reune e enquanto as mulheres assistem, os homens e os jovens participam de diversas gincanas, do tipo “braço de ferro”, cobra-cega, e o mais divertido e que sempre sao times formados pelos soldados do exercito contra o time dos locais.O povo se divertia abeça quando os soldados perdiam as provas.
No dia seguinte seguimos para Yumthang, que e o ponto mais ao norte possivel de se chegar antes da fronteira. Esse vilarejo fica a 12.000 pes de altura, e a viagem levou cerca de 3 horas. Para minha sorte o dia amanhaceu limpo! Sol, ceu azul! Yumthang e realmente aquele lugar que voce olha, sente e pensa para si mesma: contos de fadas existem! Esse foi meu primeiro pensamento. Casinhas na beira do rio, no meio de um vale infinito, cercado de montanhas com picos nevados, flores trazendo cor ao vale, lugar onde as vacas realmente usam um laço no pescoço com um sininho pendurado, lugar onde nas plantacoes de milho os espantalhos estao presentes, cavalos livres, soltos...enfim, um lugar magico! Fiquei horas admirando a beleza e a energia desse lugar. Para cada canto que eu olhava , algo me supreendia,tudo era muito encantado! No caminho de volta ainda paramos em um lugar para nos banhar nas aguas quentes das montanhas, piscinas naturais, que borbulhavam no meio das pedras. Foi um dia muito contente! Voltamos para Lachung pois em Yumthang nao teriamos onde dormir.

Na manha seguinte nossa proxima parada foi Lachen, que fica a 8000 pes de altura e e bem menor que Lachung. Se Lachung era “um nadinha no meio das montanhas”, Lachen era “um nadinha ao cubo no meio das montanhas”. Vilarejo composto por 150 casas, a populacao e denominada Lepchas e eles tem o proprio governo ( funciona mais como uma assembleia onde td e votado por todos) e tambem o proprio dialeto. Algo similar ao Nepali. Em Lachen fiquei hospedada na casa de uma senhora que o meu guia conhecia. Lugar muito simples, muito humilde. A frente da casa era uma vendinha, e nos fundos o quarto, a cozinha e o quintal, onde eles cultivavam tudo que precisavam para sobreviver e onde criavam 2 vacas. Na casa moravam a senhora, o marido os 2 filhos e a as 2 filhas. Me ofereceram um quarto que eles acabaram de construir acoplado a casa para receber visitantes, mas eu so ia para o quarto na hora de dormir, quis passar o dia inteiro com eles, conhecendo e vivendo da forma que eles vivem. Cheguei e fiquei na cozinha, da onde nao sai ate o fim do dia. Na cozinha e onde td acontece, o lugar mais movimentado. Ninguem falava ingles, mas meu guia traduzia as coisas para mim. Todos muito simpaticos, queriam fazer de tudo para me agradar.Queriam saber o que eu gostava de comer, que horas que eu queria jantar, o que eu queria para o cafe da manha...tive que pedir para meu guia explicar que eu nao queria nada de especial, nao queria ser tratada diferente, vou comer a comida deles, na hora que eles comem, que eles nao precisam se preocupar. Pessoas de uma delicadeza, educaçao e sensibilidade incriveis! A casa era super simples, eles eram super simples, mas mesmo assim, na hora de me servir o cha, faziam questao de pegar a unica xicara de porcelana com desenhos chineses para me servir, e eu percebi que apenas para mim o cha era servido com um pratinho em baixo.Segundo meu guia isso e sinal de respeito. As filhas me olhavam curiosas, mexiam no meu cabelo, sorriam timidamente. A comunicacao era dificil, mas dava para se virar, nada melhor do que nos comunicarmos pelos olhares, pelos sorrisos e pelo coraçao. Afinal, ninguem precisa de palavras quando os sentimentos sao tao puros e transparentes. Basta sentir. E durante os 3 dias que fiquei com eles eu nunca me senti tao bem. Eu estava totalmente desconectada do meu mundo, nao levei telefone, laptop, ipod, nada! (Apenas meus livros) e devido a isso eu consegui viver no tempo deles, ia dormir as 8 da noite, acordava as 5 da manha. Os dias eram longos, e a paz e aquela alegria tranquila eram companheiras constantes. Visitei alguns monasterios da regiao, fiz caminhadas e no ultimo dia fui para um lugar chamado Chopta Valley. Fica bem ao norte de Lachen, um visual maravilhoso. Um vale infinito com o rio que passa pelo meio das montanhas.

Voltei para Gangtok onde passei mais uma noite e na manha seguinte Manesh veio me buscar. Ele estava muito feliz que eu iria conhecer a familia dele e a cidade onde ele nasceu, mas primeiro fez questao de me levar nos principais pontos turisticos de Gangtok, pois segundo ele eu nao poderia ir embora sem conhecer o museu tibetano, o monasterio de Sikkim, e o mercado de handicrafts. Ele nao entendeu que eu estava fugindo de coisas turisticas mas a animacao dele era tanta em me levar para esses lugares que eu fui contente.
Manesh nasceu em Kalimpong, uma cidade que nao faz parte de Sikkim, mas e bem pertinho. Mas depois que ele enfim entendeu que eu queria conhecer os vilarejos e a vida das pessoas desses lugares ele mudou de ideia. Ao inves de ficarmos 2 noites em Kalimpong iriamos passar a noite na casa da irma mais nova dele que mora perto de um micro vlarejo chamado Lava. O vilarejo ja e super afastado e segundo ele, a casa da irma era ainda 9 km distante da vila. Eu aceitei, obvio! No meio da caminho ele parou em um mercadinho e reparei que ele comprou varios snacks e biscoitos, perguntei se ele estava com fome e ele disse rindo que nao, que as coisas eram pra mim, pois a casa da irma dele e muito isolada, nao tem nada por perto e se eu nao gostar da comida ele nao queria que eu passasse fome.
No final do dia, depois de algumas horas na estrada chegamos na casa da irma dele. Realmente no meio do nada! Nem agua encanada tinha. Uma casa muito simples, a cozinha era um barraco nos fundos, o banheiro tambem era separado, nos fundos, mas nao era banheiro, era apenas um buraco na terra. Banho so de caneca e no meio da mata!
Fiquei na cozinha enquanto o jantar era preparado, gosto de observar o jeito delas cozinharem, e tudo colhido na hora, e os temperos, uma delicia! Na casa moravam a irma de Manesh, a cunhada com o marido e os 3 filhos e a sogra. O marido dela e soldado e vem para casa algumas vezes por ano apenas. Nessa noite choveu demais! Pela primeira vez eu nao consegui dormir. Por puro preconceito e ignorancia eu fiquei acordada temendo que o quarto desabasse. A chuva estava muito forte, os raios de minuto em minuto iluminavam o quarto, aquele barulho e a quantidade de agua que caia do ceu me deixaram tensa. Eu so ficava imaginando a hora da agua invadir a casa e tudo desabar. Tolice de minha parte! Na manha seguinte tudo estava normal. A minha indole de menina da cidade uma hora teria que transparecer.Nao foi com a falta de conforto, nao foi com a falta de talheres para comer, nao foi com a falta de chuveiro ou com o isolamento. Foi com a chuva. A forte chuva, o forte poder da natureza me fez estremecer, e por uma noite, me fez preferir estruturas de concreto do que um barraco de madeira.

Na manha seguinte seguimos para Kalimpong. Kalimpong e uma cidade pequena, bagunçada e engraçada. Muito movimento no street market, onde voce encontra de tudo! E tudo muito barato, pois e muito perto da fronteira com a China. Fiquei na casa de Manesh, com a familia dele. Tambem um lugar super simples, mas muito acolhedor. O quarto que separaram para mim estava todo arrumadinho, ate flores eles colocaram. Fui tao bem tratada que ate me senti encabulada. Era tanta delicadeza, tanta educaçao, que eu ficava sem jeito. Antes do jantar o Manesh me chamou no quarto da irma para assistir um video que ele fez da filhinha dele com 1 ano de idade, ele queria me explicar tudo, todo orgulhoso e feliz!Certa hora apareceu uma cena onde a filha dele estava aprendendo a andar, com aqueles andadores de rodinhas e por um momento eu me senti como aquela criança. Aprendendo a andar, nao sabendo muito bem o que fazer nem o motivo, mas simplesmente seguindo, dando um passo atras do outro, caindo de vez enquando mas se levantando e tentando tudo novamente.

No dia seguinte acordamos cedinho e Manesh me levou para o aeroporto. Era o fim da minha jornada. Posso dizer que vi paisagens e conheci lugares maravilhosos nessa minha viagem, mas o mais tocante e o que eu vou levar para sempre comigo sao os sorrisos puros das pessoas que conheci. Tanto carinho e respeito que recebi, fui tratada como nunca antes, e por pessoas totalmente desconhecidas que fazem tudo isso por puro prazer, nao almejam nada em troca, e algo puro, verdadeiro.

Na viagem de volta, no trem, fiquei relembrando cada momento e cada situaçao que eu pude viver durante essa minha jornada solitaria e nao pude conter minhas lagrimas. Era um choro de alegria, de complitude, e ao mesmo tempo de revolta. Muito carinho, muito conforto espiritual, muita paz que me foi transmitida por essas pessoas, pessoas especiais que carregam dentro de si os verdadeiros valores da vida, e que nao tem mais nada a oferecer alem de todo respeito, educaçao e solidariedade. Pessoas humildes, que vivem na simplicidade mas nunca na miseria. A eles nao falta absolutamente nada, vivem com aquela felicidade tranquila, gostosa. Eu nunca me senti tao cheia de vida, tao sorridente por dentro, e sem precisar de absolutamente nada mais do que o necessario. E por isso minhas lagrimas de alegria.
Mas saber que infelizmente eu cresci e me criei envolta por outra realidade, e apesar de ter orgulho da educaçao que meus pais me proporcionaram, de sempre ter muito amor e carinho, de viver em uma casa onde o respeito sempre foi presente, e valores como aparencia, dinheiro e status nunca foram dados como importantes, eu tenho a conciencia que faço parte de um sistema esmagador, de uma sociedade que exige o minino de adaptaçao para se sobreviver, uma sociedade que te escraviza e tem o poder de transformar valores em desvalores, de inverter a importancia das coisas essencias para a vida. Sim, eu gosto de sair, de me vestir bem, de ir em bons restaurantes uma vez ou outra, de viajar. Sim, eu faço parte desse sistema, cresci e me formei dentro dele, nao tenho como negar que gosto de ter meu laptop para me comunicar com meus amigos, gosto do meu ipod atualizado com as musicas do momento, gosto de estar sintonizada, de ter minha pagina no facebook,de ir em shows, etc... mas descobri que nada disso sera capaz de me fazer sentir tao bem comigo mesma, nada do que esse sistema me proporciona vai algum dia me ensinar a ter um milesimo da humildade e do respeito com o proximo como essas pessoas que conheci. Nada que faz parte desse sistema vai ser capaz algum dia de me tocar na alma como aconteceu durante esses dias.E por isso minhas lagrimas de revolta.

Eu estou reconstruindo um mundo dentro de mim, com as coisas que eu estou vivendo e aprendendo,e nao com o que algum dia me falaram como sendo certo ou errado, real ou ilusorio. Estou recriando a realidade com meus proprios passos, com minhas proprias vivencias e desejos. Sei que terei que voltar a minha vida e continuar a fazer parte desse sistema, mas dentro do meu mundo particular levo comigo outros valores para pelo menos tentar fazer dessa jaula um lugar um pouco mais humano e menos animal.


4 comentários:

  1. Aiieee! Morri com esse post! Que lindo q deve ser esse lugar, só não é mais lindo do que vc, minha amiga querida! É incrível a sua capacidade de me emocionar, de me fazer sentir seus sentimentos e até me transportar para Sikkim! ") E tudo isso apenas com as suas palavras!

    Aproveite tudo! Te espero no "sistema"...

    Um grande beijo, Joi.

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  2. O que dizer quando já se ouviu tudo?;tamanha a intensidade das palavras,transbordadas de tão pura emoção e sentimentos.A melhor tradução de uma vivencia curta,mas profundamente complexa e completa;como o esforço do caminhar da criança no andador;como o raio de chuva que a tudo ilumina e te encanta e amedronta.
    Voce tem todo o motivo do mundo para chorar de felicidade,pois foi iluminada,caminha firme e tem agora parte inalienável de seu ser;seu "ser humano".

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  3. Ke,
    Impossivel nao me emocionar c/ suas "cartas", realmente vc escreve de forma tao verdadeira q me transporta ao lugar e parece q ao ler me consigo imaginar c/ detalhes a vigem a cd lugar por ti conhecido. Nao tenho duvidas q vc esta cd xs mais se tornando um ser mto mais rico em tds sentidos c/ esta chance q deu a sim mesma de viajar p/ uma cultura totalmente diferente da nossa, Ke, tiro meu chapeu p/ sua maturi//, segurança e sensibili//. Seja sempre muuuito feliz onde estiver !!1 com carinho de sua prima Meori e bjs de brigadeiro do Theo

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  4. Ke, que lindo!
    Que saudades de vc!
    Aproveita tudo mesmo!
    Acho que isso é o melhor da vida, não?
    Viajar em todos os sentidos!
    Conhecer novos lugares, culturas, pessoas e seus jeitos e costumes diferentes!
    Que demais!
    Um beijão c/ saudades,
    Paulinha

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