segunda-feira, 27 de julho de 2009

Um pouco de silencio - Lya Luft

Recebi esse texto da Lya Luft e gostaria de compartilha-lo com voces. Me identifiquei bastante e resume muito bem o que eu estava sentindo e pensando ao decidir viajar e morar fora por um tempo.

Nesta trepidante cultura nossa, de agitaçao e do barulho, gostar de sossego e uma excentricidade. Sob a pressao do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigaçoes. Muitas desnecessarias, outras impossiveis,algumas que nao combinam conosco nem nos interesam.
Nao ha perdao nem anistia aos que ficam de fora da ciranda: os que nao se submetem mas questionam, os que pagam o preço da sua relativa autonomia, os que nao se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resitencia.
O normal e ser atualizado, produtivo e bem informado. E indispensavel circular,estar enturmado. Quem nao corre com a manada praticamente nem existe, se nao se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.
Acuados pelo relogio, pelos compromissos, pela opiniao alheia, disparamos sem rumo - ou em trilhas determinadas - feito hamsters que se alimentam de sua propria agitaçao.
Ficar sossegado e perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinho e considerado humilhante, sinal de que nao se arrumou ninguem - como se amizade e amor se "arrumasse" em loja.
Alem do desgosto pela solidao, temos horror a quietude. Logo pensamos em depressao: quem sabe terapia e anti-depressivos?
O silencio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nos. Quando nada se move nem faz barulhos, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incomodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro angulo de nos mesmos. Nos damos conta de que nao somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.
Existe em nos, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo alem desse que paga contas,transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso e so para os outros!) vai morrer.
Quem e esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?
No susto que essa ideia provoca queremos ruidos, ruidos. Chegamos em casa e ligamos a televisao antes de largar a bolsa ou pasta.Nao e para assistir um programa: e pela distracao.
Silencio faz pensar, remexe aguas paradas, trazendo a tona sabe D's que desconcerto nosso. Com medo de ver quem- ou o que - somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem mascaras.
Mas, se agente aprende a gostar um pouco do sossego, descobre- em si e no outro- regioes nem imaginadas, questoes fascinantes e nao necessariamente ruins.
Nunca esqueci a experiencia de quando alguem botou a mao em meu ombro de criança e disse:
- Fica quietinha, um momento so, escuta chuva chegando.
E ela chegou, intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela agente se refaz para voltar mais inteiro ao convivio, as tantas frases, as tarefas, aos amores.
Entao por favor, me deem isso: um pouco de silencio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito alem das palavras de todos os textos e da musica de todos os sentimentos.

Enfim, de volta ao meu silencio...
Namaste!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

quinta-feira, 9 de julho de 2009

As monções chegaram...

E junto, o caos!

A cidade de Vadodara realmente nao esta preparada para as chuvas. Semana passada tivemos um "pequeno" temporal durante a noite que resultou em uma madrugada "diferente".

O apartamento que eu estou morando com mais 6 estudantes, alagou! Pois e...moramos no segundo andar de um predinho, e a agua da chuva, que descia pela escada, invadiu nosso apartamento. Eu estava dormindo, sonhando que estava em uma canoa, navegando tranquilamente pelas praias paradisiacas da Indonesia...foi quando me dei conta que o barulho da agua estava muito proximo de mim, muito real..rsrsrs

Bom...acordamos no meio da noite e foi aquela alegria! O apartamento nao e nada organizado e e comum deixarmos coisas jogadas e espalhadas pelo chao, como roupas, sapatos, livros...enfim, começamos a tentar salvar nossos pertences.

Depois veio a hora do balde e do rodo.

Nao posso dizer que foi uma enxente, mas a agua invadiu todas as acomodaçoes...quarto, sala, cozinha, banheiro. Digamos que foi uma experiencia valida e ate engraçada, afinal, nao e todo dia que seu apartamento alaga (eu realmente espero que nao seja todo dia).

Na manha seguinte nossa rua estava intransitavel! pura lama, como a maioria das ruas da cidade. Nessa epoca o que se ve sao poças e mais poças, ruas alagadas, muito lixo, etc... enfim, uma verdadeira bagunça!E no meio dessa aguaceira estao as vacas, os cabritos, os cachorros e as crianças de rua que adoram brincar nas picinas naturais da cidade.

O transito fica mais infernal ainda devido as ruas intransitaveis, e tambem temos que conviver com as quedas de energia que sao cada vez mais constantes e sem energia perdemos nosso melhor amigo - o ventilador- e sem ventilador precisamos deixar as janelas abertas, ai vem a duvida cruel : Abrir a janela e deixar a chuva molhar todo apartamento ou morrer de calor com as janelas fechadas, porem tudo sequinho.

Pois e...bem que meus pais me disseram que um dia eu teria de tomar decisoes importantes na minha vida. Acho que esse dia chegou!




quarta-feira, 1 de julho de 2009

A beleza da fe

E muito bonito observar e sentir a fe que emana dessas pessoas. Todos, de alguma forma, carregam em seu corpo algum sinal remetendo sua religiao. Homens e mulheres hindus com o famoso "terceiro olho", ou a fitinha vermelha amarrada ao pulso e na maioria das vezes, os homens, com uma pequena tatuagem no pulso ou no antebraço com algum simbolo hinduista. Ja os muçulmanos e as outras religioes se diferenciam pelo modo de se vestir e pelos simbolos que carregam.

O fato e que por aqui, todos de alguma forma, tem a religiao visualmente identificada.
Mas o que predomina e o hinduismo.Pequenos templos, pequenas casas de oraçao e altares sao vistos em cada rua dessa cidade. Todos os estabelecimentos, lojas, restuarantes, posto de gasolina, todos os lugares tem um "cantinho religioso".


No escritorio onde trabalho, por exemplo, o hall de entrada tem um pequeno altar com a imagem de dois deuses hinduistas (nao me lembro agora qual especificamente). Todo funcionario que chega, antes de subir, passa por la se concentra por alguns minutinhos e faz a reza da manha.


Mas o caminho de volta do trabalho e a hora que eu mais gosto na cidade.
Fim de tarde, a hora dos cântigos. Ao passo que vou atravessando a cidade para chegar em casa, vou passando por varios templos e altares, onde as pessoas se aglomeram, lotando a calçada em volta, e cantam, rezam, enfeitam o altar com flores, acendem os incensos, tocam o sino. Um por um, eles entram, se apresentam diante da escultura que e da imagem de algum dos deuses , buscam seu momento de paz e voltam a cantar. Mulheres, homens, idosos e as crianças que pulam, sobem no colo das maes para alcançar e tocar o sino. E uma hora magica na cidade, voce consegue sentir a paz de todo esse ritual acompanhado pela cantoria, os sinos e o cheiro dos incensos.

A fe e algo muito interessante. Ao meu ver e a prova de que nenhum bem material sera capaz de satisfazer o homem por completo. Todos ainda estamos em busca de algo inatingivel. Todos de alguma forma temos nossos momentos de fe, aquele momento que conversamos com nos mesmos, que buscamos forças ou respostas alem daquilo que esta a nosso alcance.


Mesmo aqueles que dizem nao acreditar em Ds, que nao tem e nao gostam de religiao, creio que de alguma forma acabam buscando uma saida espiritual, um desprendimento da carne. Meditando, sonhando, fazendo regressao, energizaçao, ...nao importa o jeito. Nao tem como viver sem ao menos pensar em algo alem. Seria muito banal. Seria como assinar o atestado de obito da propria vida. Seria nao acreditar na magia que ela pode te proporcionar.