terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Taj Mahal ficou pequeno

Pela segunda vez em Agra, a cidade do famoso Taj Mahal!
O trem chegou bem cedinho, as seis da manha. Sem planos e sem saber onde ficar eu e a Ca saimos da estacao e pegamos o primeiro rickshaw disponivel. Tinhamos certeza de que ele nos ajudaria a encontrar algum albergue, afinal, Agra e a cidade mais famosa e mais turistica da India.
O motorista, muito simpatico, nos levou ate a rua onde ficam a maioria dos albergues e depois de ver alguns quartos - que mais pareciam caixas de sapato mofadas - encontramos um lugar bom e com preco razoavel, afinal iriamos embora na mesma noite, agente so precisava de um lugar para descansar, tomar um banho e deixar as mochilas.
Depois de alguns "longos" minutos de negociacao combinamos com o motorista um preco fixo para fazer um city tour na parte da tarde. Aproveitamos as horas livres para descansar, tomar banho e ir a pe ate o Taj Mahal. O albergue era bem pertinho. Acompanhei a Ca ate a entrada mas nao quis entrar. Ja conhecia a parte de dentro e tambem quis economizar as 750,00 rupias da entrada.

Voltei para o albergue e fiquei observando o Taj do roof top, o que e uma visao bem diferente. La de cima da para observar a grandeza, beleza e brancura desse monumento como "pano de fundo" de uma cidade suja, baguncada e caotica, uma cidade que vive em funcao do Taj. Comercio, hoteis, restaurantes...todo um enorme movimento devido a um unico monumento.
Quando a Ca voltou ficamos a espera do motorista, mas ao inves dele veio outro - o primo dele - Aamir. E mais uma vez o destino provando que nada e por acaso, ou talvez que tudo seja por acaso, ainda nao consegui decifrar esse misterio da vida :)
Aamir era bem novinho, devia ter uns 20 anos no maximo. Estava extremamente contente, era sua primeira viagem com turistas. Ele nos levou ate o Agra Fort, depois fomos para uma rota alternativa, uma rua de onde e posivel ver o Taj por detras do lago. Novamente me espantei e me encantei com a grandeza daquela construcao! Logo depois fomos ver o "baby Taj", foi construido antes do Taj, e exatamente identico mas em proporcoes menores. Parece que foi uma "maquete" antes da construcao do principal.
No caminho Aamir perguntou se ele poderia nos levar para conhecer sua casa e sua familia, ele estava muito feliz com as "primeiras turistas" e queria mostrar para a familia. E claro que aceitamos! Na hora ele deu um sorriso, pegou o celular e pelo o que eu pude entender, avisou alguem que estariamos chegando. Aamir nao tirava o sorriso do rosto, parecia estar em extase!

No caminho pude perceber que estavamos saindo do centro da cidade e indo para lugares onde nao se encontra turista algum. As pesoas ja te olham diferente, mais assustadas e curiosas. Alguns minutos depois ele para o rickshaw e pede para agente descer. Era uma rua bem movimentada, co algumas lojas, barraquinhas de comida, muito suja... em meio a buzinas, scooters, charretes, vacas, cabritos e muito olhares curiosos nos descemos e seguimos Aamir que logo entrou em uma ruela muito estreita, um lugar de casas muito simples, pequenas e amontoadas, como se fosse uma favela.

O que aconteceu dali em diante foram momentos marcantes e inesqueciveis em minha vida. A cada casa que agente ia passando as criancas saiam correndo, as pessoas vinham ate a porta, os jovens iam nos seguindo. Quando olhei para tras uma multidao havia se juntado a nos e nos seguiam gritando, sorrindo, fazendo a maior festa. Continuamos andando por ruas mais e mais estreitas, como se fose um labirinto meio escuro e sujo quando enfim chegamos na casa de Aamir. Toda a familia estava a nossa espera! A mae dele estava toda maquiada e vestindo um saree muito lindo, assim como a irma mais nova que tambem estava toda produzida. Pude perceber que tal arrumacao estetica foi especialmente para nos receber.
Entramos na casa, que era na verdade apenas uma "sala" e uma cozinha.
Avos, primos, sobrinhos, irmaos, todos estavam la. Nos sentamos e ele nos apresentou um por um. Os olhos espantados dessas pessoas ficavam nos analisado e mal conseguiam piscar, e era um olhar cheio de admiracao, cheio de respeito e carinho. E como sao delicadas esas pessoas! A mae dele preparou o famoso "chai" e fez questao de nos servir em duas xicaras de porcelana! (isso me lembrou a familia que conheci em Sikkim, que tambem fez questao de me servir o cha na melhor xicara da prateleira). Alem disso, alguem da familia foi ate alguma vendinha so para comprar biscoitos para agente.

E la estava eu, sentada, tomando um chai e sendo observada por umas 15 pessoas que ficavam de pe, ao meu redor, me admirando. E nesse momento eu pude sentir novamente o verdadeiro calor humano, o amor, a pureza e humildade desas pessoas incriveis.
Eu me senti pequena! Rodeada por essa gente eu me senti um nada... Nem a grandeza e imponencia do Taj Mahal foi capaz de fazer eu me sentir tao pequena. Eu estava ali, diante do maior monumento da vida humana- o amor- sentindo uma energia monumental e me perguntando o por que?
Por que essas pessoas me tratam tao bem? Por que elas sao tao boas com completos desconhecidos? Por que tanta admiracao?

Saindo de la Aamir ainda nos levou para a casa da outra tia, depois para a casa do outro irmao, e asim fizemos o tour pela familia inteira! Ate autografo eu tive que dar no meio do caminho (por pura insistencia pois eu recusei ate onde pude).

Milhoes de pessoas do mundo inteiro vem a Agra admirar o Taj Mahal, a grandeza e beleza desse monumento que e na verdade uma prova de amor de um homem para sua amada. E eu tive a sorte de provar do mais puro sentimento, e esse sim e gigante!
Por mais que o homem tente, materializar um sentimento e imposivel. Poderiam construir um palacio 10 vezes maior que o Taj que nada disso teria a dimensao do que foi estar rodeada de puro sentimento.
O Taj ficou pequeno perto desse carinho todo. Eu fiquei pequena perto dessas pessoas. Miha existencia e minhas atitudes me pareceram nulas por alguns minutos.

Precisamos de sentimentos e nao de provas de um sentimento, mas sera que as pessoas so conseguem ver a beleza do amor de uma forma palpavel e materializada?
Tenho a sensacao de que estamos perdendo a sensibilidade e enxergando apenas aquilo que nossos olhos podem ver, deixando muita vida se perder pelo caminho.

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